A família é primazia para a Comunidade Filhos de Sião. Nossos Estatutos apresentam que ela é especial, reconhecendo a grande força que representa para a Igreja.
A Igreja doméstica
Sendo o Matrimônio uma fonte de bênçãos, as famílias são constituídas para a santidade, vivendo o casal em plena fidelidade às orientações do Magistério da Igreja, bem como ao Carisma Filhos de Sião (cf. EFS).
Sobre o tema, São João Paulo II já dizia que “a família é a Igreja doméstica”. Logo, a finalidade desse Sacramento é evangelizar e construir um núcleo familiar que represente uma pequena igreja – isto é, ter a Igreja dentro de nossos lares.
Por ser algo querido por Deus, a família sofre com as insídias do mal – como revelou Nossa Senhora em Fátima a uma das crianças videntes: a última batalha do inimigo seria contra as famílias. Ou seja, as armas do inferno estão voltadas para a família. Por diversos meios, e de modo até sorrateiro, essas investidas entram em nossas casas – seja através da música, dos filmes e desenhos animados, da cultura –, portanto, estejamos atentos e preparados, porque estamos perdendo muitas dessas batalhas.
Pilares familiares segundo o Evangelho
Refletindo o chamado de São Mateus (Mt 9, 9-13), encontraremos três pilares fundamentais que auxiliarão as famílias a permanecerem firmes contra as armadilhas do inimigo.
Embora Mateus – provavelmente – não fosse um homem justo e bom, estava na coletoria de impostos, foi visto e, em seguida, chamado por Jesus.
No primeiro versículo, encontramos que Cristo viu Mateus – isto é, fixou o olhar em Mateus – antes mesmo de convidá-lo. Ora, também os casamentos se iniciam a partir de um olhar.
O pilar do olhar
Na Teologia do Corpo de São João Paulo II, o papa trouxe que “o olhar nutre a alma”, e bom seria que as famílias, especialmente homem e mulher, nutrissem essa atitude, sem se acostumarem – ou seja, não abandonando o olhar para o seu cônjuge –, alimentando um olhar contemplativo.
O verbo ‘contemplar’, segundo o Catecismo da Igreja Católica (§ 2715), é fitar os olhos naquilo que se ama. Portanto, é preciso contemplar o amado a cada dia. Muitos matrimônios se desfazem atualmente pela perda desse pilar, que é o olhar. Saiamos do marasmo do ter “se acostumado”, pois o Espírito não faz coisas novas, mas renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5).
Em Eclesiástico 34, 19, o autor afirma que o olhar do Senhor está sobre aquele que O ama. Podemos nos questionar: Para onde voltei o meu olhar de esposo(a)? Quando Cristo passa pela coletoria de impostos e fitou Mateus, pelo Seu olhar profundo, Ele foi capaz de enxergar a alma daquele que viria a ser um dos Seus apóstolos.
Ainda cabe mais uma pergunta: Quais empecilhos têm nos roubado da contemplação do outro? Vejamos os exemplos atuais: a tecnologia, as redes sociais, os entretenimentos – e o mais triste, estamos aceitando essa realidade pacificamente! Até mesmo nós que “somos de Igreja”, mesmo tendo vivido a experiência sobrenatural do batismo no Espírito Santo, que curou e trabalhou o nosso olhar.
Conta a história de Santa Zélia e São Luís – pais de Santa Teresinha -, que eles tinham propósitos de vida religiosa antes de discernirem o matrimônio. Ao cruzar uma certa ponte, passando um pelo outro trocaram olhares, e compreenderam que deveriam ficar juntos.
Diante do nosso cônjuge, o nosso olhar deve estar voltado para a alma, não para o corpo apenas. Ambos deixaram suas famílias para formarem uma nova, e tornarem-se uma só carne (cf. Gn 2, 24).
O perigo do costume
O “acostumar-se” leva à monotonia. Se não nos esforçarmos para encontrar a novidade que o Sacramento do matrimônio pode ser a cada novo dia, o homem corre o risco de enxergar a mulher como a secretária do seu lar e a babá de seus filhos; e a mulher … Perdendo o valor da contemplação, de enxergar a alma, veremos no outro somente aquilo que é defeito, que nos aborrece e irrita.
Por essa razão, peçamos ao Senhor a graça de ter um olhar sempre novo, capaz de descobrir e redescobrir o novo.
O pilar da mesa
A segunda coluna que o Evangelho nos apresenta está contida no versículo 10: “Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem […]”. O ponto de encontro da conversão de Mateus foi a mesa. Também em nossos lares a mesa é lugar de encontro e unidade, bem como de reconciliação. Além de partilhar o alimento, partilha-se também a vida. Por isso, não se deve levar o celular, ou trabalho.
Vale ressaltar que os problemas familiares devem ser resolvidos à mesa, a fim de que as preocupações, dívidas e questões não acabem atrapalhando o casal na intimidade da cama. Ademais, a mesa é lugar de evangelização, de catequese; é também local de oração, pois não se deve tomar o alimento sem antes agradecer a providência divina.
O pilar da misericórdia
Por fim, no versículo 13 encontramos a terceira coluna – a misericórdia. Para que esta aconteça, precisamos de algo fundamental: ter vida de oração. Uma esposa sábia e um esposo compreensivo são formados a partir de uma espiritualidade viva. Pela misericórdia podemos chegar ao perdão, diante daqueles defeitos e dificuldades que enxergamos no outro.
Deus nos olha e enxerga além de nossas limitações, nos vê segundo o Seu projeto original – puros e santos. Ele não deixa de nos amar por causa de Sua misericórdia, e o mesmo deve viver os cônjuges – amar, olhar, perdoar.
Assim, a misericórdia é alimentada pelo bom trato, pelo respeito. Levando adiante dos pais para os filhos, a atitude misericordiosa nos conduz ao amor, ao perdão.
Cada um desses três pilares tem representações nítidas na vida familiar:
- O olhar: A segurança, capaz de enxergar a alma;
- A mesa: O lugar de encontro, perdão, reconciliação, e da presença paterna;
- A misericórdia: A oração e a compreensão.
Irmãos, todas as famílias vivem uma realidade desafiadora. Mas em meio as dificuldades, defeitos, vícios, e até a dúvida de levar a frente o Sacramento do matrimônio, tenhamos a coragem de viver sobre as colunas apresentadas. Elas servirão de apoio, força e sustento.
Paulo de Tarso Silveira Filho
Consagrado na Comunidade de Aliança com Promessas definitivas