O mal da lepra
“Lepra” é todo tipo de mal que causa mancha na pele; ela é um dano que está no exterior.
Entendia-se a lepra como um castigo de Deus, e os leprosos eram tão impuros, que não podia aproximar-se deles. Nos últimos tempos, vivemos uma espécie de lepra, quando fomos acometidos pela pandemia da Covid-19. Tivemos que nos distanciar, procurando isolamento, ficando distantes até dos nossos familiares.
Conduzidos pelo Evangelho de São Marcos 1, 40-45.
Mesmo doente, excluído e afastado o leproso teve coragem de se apresentar a Jesus; enfrentou preconceitos, foi audacioso e teve foco – quis se achegar a Cristo. Não se prendeu a quem poderia estar presente, ele reconheceu o Senhorio de Jesus!
O que nos impede de nos aproximar de Jesus?
Quantas vezes somos amedrontados – ou até mesmo, por respeito humano – de nos aproximar de Jesus e de Sua Igreja, que acabamos nos tornando como um leproso. Porém, não existe ninguém, nem lepra nenhuma que possa nos separar do amor de Cristo.
Muitas vezes, ainda, tememos por causa dos outros. Mas, afinal, de quem queremos realmente nos aproximar: dessas pessoas, ou de Jesus?
Ainda há o outro lado dessa situação: lembremos que Jesus não faz acepção de pessoas e nem exclui ninguém! Por essa razão, nós, que estamos “dentro da Igreja”, precisamos também olhar para Cristo e não criticar aqueles que estão chegando. Devemos ser referência de acolhimento.
Podemos questionar: Será que Jesus impõe dificuldades em algum pedido nosso? A dificuldade está em Jesus ou em nós mesmos, os leprosos? Apesar daquele leproso do Evangelho saber que não podia se aproximar de Jesus, ele saiu de si e foi em busca d’Aquele que, também nós, precisamos.
Além disso, pode ser que tenhamos medo de nos acercar de Jesus devido não querermos apresentar as nossas lepras – nossos pecados e fragilidades.
Nesse caso, saibamos que medo não se guarda, se vence! Quando guardado é como se fossêmos pondo uma máscara, fingindo estar tudo bem, mas por dentro, está cada vez pior.
Abrir-se à graça divina
Naquele tempo, Jesus se comoveu com a dor daquele leproso, bem como se comove hoje com a nossa lepra. A Sua vontade é sempre de nos curar, pois o Pai O enviou para que nenhum de seus filhos se perca (cf. Mt 18, 14).
Se nos fechamos à graça de Deus, aos irmãos que nos alcançam, infelizmente, esta graça não penetra. É preciso uma abertura, é necessário a nós a busca e o desejo.
Em outras palavras, se estamos sem a graça, somos ‘desgraçados’ – isto é, tristes, esmorecidos em relação a tudo, de forma que nada nos anima, e sempre ficamos reclamando. De fato, a pior lepra é esta, quando nos fechamos e nos isolamos… A ponto de não querermos a graça. Exclui-se a si próprio porquê é pecador, e não quer se confessar com “um homem como ele”. Ora, todos somos leprosos, mas precisamos uns dos outros. Mesmo sob o jugo da lepra, somos necessitados dos irmãos. Todos nós fomos acolhidos, um dia, por leprosos, e precisamos acolher os novos que chegarão.
O anúncio inclusivo de Cristo
Estejamos atentos: nós aprendemos a eliminar as pessoas das nossas vidas e, na medida em que vamos eliminando pessoas, também Deus é eliminado.
Quando o Senhor nos dá um dom, ninguém olha para quem nós somos, mas para o dom de Deus. Dessa maneira, o nosso anúncio não pode ser exclusivo, mas inclusivo, para todos e com o desejo de que nenhum dos nossos “irmãos leprosos” se perca.
Sabemos que Cristo foi humano em tudo, exceto no pecado. Todavia, foi capaz de se fazer pecador, na condição de receber uma Cruz para nos salvar dos nossos pecados. A dimensão da crucificação e morte de Jesus foi o ato mais belo à humanidade, pois prestou contas de um crime que é nosso.
Fomos resgatados por esta grande cura que Jesus nos trouxe, de sermos homens e mulheres novos a partir da graça de Deus.
É próprio de nós a vergonha diante do que fazemos, que a fila da confissão nos deixa sem jeito. Contudo, esse acanhamento não pode nos impedir de nos reconciliar, é no Sacramento da Reconciliação o lugar de mostrar a ferida e sair curado; é o tribunal mais lindo que pode existir! Nós mesmos nos acusamos, e somos perdoados e salvos.
Padre Francisco Eduardo
Paróquia São João Batista de Celsolândia, Acaraú-CE