Iniciemos esta reflexão na certeza de que o Senhor nos inquieta! Neste domingo do Bom Pastor, a Sua vontade é nos encontrar, pois Ele nos chama e espera.
O chamado de Abrão
A partir de Gênesis 12, 1-5, meditemos acerca da vocação de Abrão, que teve seu encontro vocacional com o Senhor.
Sabemos que Gênesis quer dizer “início”. Na narrativa, quando Abrão foi chamado a deixar sua terra – o mesmo pedido que o Senhor nos faz hoje, foi no sentido de “amá-la menos”. Isto é, a finalidade do chamado é para amarmos de verdade Aquele que vale a pena. Ele nos convida a deixar a terra do sucesso, dos nossos projetos, do que para nós é segurança. Tudo aquilo que imaginávamos como ‘terra’, neste dia Deus quer nos levar uma terra nova, com real segurança.
Em seguida, diz a Abrão: “eu te abençoarei” (cf. Gn 12, 2b), e a graça de Deus é inigualável! Ele tornará grande nosso nome, honrará Sua promessa para conosoco, fazendo de nós ‘uma bênção’!
Ora, talvez neste tempo o Senhor esteja nos mostrando a “terra dos Filhos de Sião”. O Seu chamado hoje é que partamos para onde Ele nos mostrar. Quando enfim decidirmos partir, Ele nos abençoará, e tornará grande nosso nome, tal como fez com Abrão.
Deus nos chama
Ao chamado de Deus chamamos de “vocação”. É verdade que o Senhor chama a todos, criando-nos de forma exclusiva e única, tornando-nos um dom Seu, sendo cada um de nós uma vocação, um chamado divino.
Por essa razão, o período vocacional na Comunidade é especial, pois nos leva a descobrirmos o que Ele deseja que nós sejamos: “Eu, por exemplo, fui chamada a ser mulher, esposa, mãe, sogra, fundadora de um Carisma novo na Igreja, ser uma filha de Sião, ser céu aqui na terra!”.
Ao chamar cada um de nós, o Senhor nos chama pelo nome (cf. Is 43, 1), chama pessoalmente, pois Ele nos conhece. O Pai nos chamou para uma missão, e só seremos felizes quando vivermos o chamado para o qual nascemos.
A vontade divina nos chama
É Deus quem toma a iniciativa de chamar, desde sempre Ele acena para nós. Na infância, provavelmente, tínhamos brincadeiras que refletiam aquilo que deveria ser o chamado de Deus para nós: como pequenos padres, religiosos, missionários, mães… Não depende do nosso querer, trata-se da sede do Senhor por nós, da Sua vontade. Mas a correspondência desse chamado é uma decisão livre e pessoal.
Assim, o chamado divino coloca em movimento o escolhido. Vejamos Abrão – ele partiu! O Senhor não nos deixa parados, pelo contrário, Ele permanece chamando à Missa, à oração, ao serviço… Ele nos chama e precisa de nós! Convoca-nos à consagração, ou seja, a levar a Sua presença aos que estão como que vendados no mundo, incapazes de vê-Lo, de reconhecer a Sua presença.
Não esqueçamos que é importante aderirmos ao chamado correto, ao chamado do bem, a fim de impedir o avanço do mal.
A partir de agora – da descoberta de que Deus preparou algo para cada um – também perceberemos Seu chamado no dia a dia.
O encontro de liberdades
Além disso, vocação é também o encontro de duas liberdades: de Deus que chama, independente de nossas qualidades e capacidades; e a outra é a nossa, que responderá e que quer estar junto d’Ele.
Podemos ainda acrescentar que o Senhor faz alguns chamados em nossa vida:
- Vocação à vida – O qual recebemos ao sermos criados o sopro de Deus: a vida, bem como a vida eterna, a vida em abundância (cf. Jo 10, 10), a fim de vivermos um dia na eternidade. Portanto, viver é um dom gratuito de Deus, somos um projeto d’Ele.
- Vocação à santidade – Graças ao Batismo passamos a compor a família dos cristãos, do povo eleito de Deus. É o chamado a sermos santos. Recebemos como batizados a vocação de sacerdote (capaz de ofertar sacrifícios a Deus), de profeta (anunciador da Boa Nova de Deus) e de rei (que, graças a Cristo Rei, não somos humilhados, mas n’Ele somos mais que vencedores).
- Vocação especial – Neste último, seremos leigos (povo de Deus), clérigos (homens ordenados, membros do clero), ou religiosos (pertencentes a uma instituição ou congregação).
No caso da Comunidade Filhos de Sião, somos uma nova comunidade de leigos consagrados, e pela consagração radicalizamos as nossas promessas batismais com um jeito próprio de ser, viver e servir.
Por que Deus chama?
Há uma finalidade nisso: o Senhor chama porque Ele quer se unir a nós em Seu projeto de vida. Como São Paulo, um dia poderemos dizer: “Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2, 20). O centro da eleição é estar com Jesus! Os eleitos prolongam a presença de Jesus. E como é bom estar próximo dos eleitos. Quem tem Cristo, transmite Cristo!
O chamado é fruto da liberdade, pois é original, é incomunicável: Ele mesmo nos chama pessoalmente. Tem como objetivo a humanização – Deus quer nos tornar mais humanos, menos brutos, menos complicados… O Senhor quer nos endireitar! Tornar-nos pessoa, capaz de lutar pelo bem, por fazer o que é certo.
O chamado é pessoal
Logo, quando alguém se diz “chamado” é preciso acreditar nele, pois esse chamado é pessoal. É o Senhor quem nos conduz ao lugar certo.
Embora a certeza não venha de imediato, toda vocação está sujeita à provação, e é um percurso doloroso, pois a escolha custa caro – porém, é gratificante! Dói optar por aquilo que não escolhemos, mas tenhamos convicção que o Senhor escolheu o melhor para nós. É preciso sacrificar coisas: a decisão é nossa.
“A Igreja cresce por atração, não por proselitismo”, diz o Papa Francisco. É preciso ouvir a Deus, ter um encontro pessoal com Ele, que nos atrai.
Onde encontrar o Senhor?
A oração é o momento no qual o Senhor olhará para nós, e nós olharemos para Ele… Para a Comunidade, a oração se dá necessariamente na contemplação. E ser contemplativo não depende dos olhos, mas do coração. Trata-se de um ato de fé, que ilumina nosso interior, conduzindo-nos a enxergarmos todas as coisas que nos circundam com um olhar divino.
É típico do Filho de Sião essa oração. Importa centrarmos nossas vidas na única coisa necessária: Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14, 6). A oração faz crescer as virtudes teologais, a fim de gerar em nós aquilo que carece no mundo.
Quem contempla a Cristo, vive de Cristo!
Vander Lúcia Menezes Farias
Fundadora da Comunidade Filhos de Sião