Ser filho de Sião
Gostaria de iniciar com um questionamento: O que é ser filho de Sião? Costumamos cantar, rezar, e repetir essa realidade. Surgirão muitas respostas, e provavelmente todas elas serão válidas.
No entanto, durante o retiro para os consagrados de promessas definitivas, recordamos o nosso saudoso Monsenhor Waldir – que foi quem nos “batizou” –, e ele disse, no primeiro encontro para nos explicar esse nome, que os filhos de Sião são “secos de sede”, são aqueles mais sequiosos, que têm mais sede – semelhante à sede do Crucificado.
A dimensão cristológica do Filho de Sião, conforme os nossos Estatutos, é exatamente esta: Cristo Rei e Senhor abandonado na cruz.
Conduzidos pelo Evangelho de João 19, 28-30, vejamos a seguir.
O cumprimento das Escrituras
“Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura, disse: Tenho sede” (28). Tudo que havia acontecido até então cumpria as Escrituras, faltava apenas essa expressão de Jesus para que fossem plenamente cumpridas as profecias.
Quando Ele disse que tudo estava consumado, é como se Cristo dissesse ‘a dívida está paga’! Humanamente falando, visto que havia sido derramado muito sangue, Jesus de fato tinha sede. Nisso percebemos as entrelinhas do nosso nome, da nossa Vocação, pois para além do lado humano de Cristo, podemos enxergar a Sua sede sobrenatural, aquela que Ele clama – não por água, mas por consolo –, sede de almas.
Dá-lhe de beber
Grande é a nossa Vocação: saciar a sede de Cristo! Perante esse clamor, o que temos feito para matar a sede de Jesus? O que tenho Lhe dado: água ou vinagre? Façamos um exame de consciência.
Nesse período refleti o que tem sido a minha vida de consagrada diante dessa situação… Como é difícil se sacrificar por Deus! Como é difícil dar de beber a Cristo.
Conforme é citado nos nossos Estatutos, na cruz Jesus mendiga o amor da Sua criatura ao professar a Sua sede. Ele mendiga o nosso amor imperfeito, incapaz, vacilante.
Mas, embora sejamos pequenos, limitados, Ele nos escolheu. Diante de todo o caminho da nossa vida, perante a nossa história, podemos concluir que quem nos sustenta é Deus, é a graça de Deus.
A graça da intimidade
Também na cruz, além da sede, Jesus se sentiu só: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (cf. Sl 21). Naquele momento, de fato Ele se sentiu abandonado. Mesmo que estivessem ali alguns poucos, como Sua santa Mãe e o discípulo amado, os demais fugiram. E saibamos que João permaneceu ali por uma razão: pela intimidade que ele tinha com Cristo. Saibamos que segredo dos fortes, dos santos é a intimidade, a amizade com Cristo!
Somos chamados a matar a sede do Senhor. Enquanto estivermos dentro desta Vocação, vai ecoar dentro de nós o brado de Jesus “tenho sede”! Só os amigos ficam até o fim, só os amigos perseveram até a cruz.
O filho de Sião é adorador, lê a Bíblia, vai à Santa Missa, comunga, faz oração pessoal, reza o terço, e entende que para matar a sede de Jesus é preciso tudo isso!
Na vivência da oração, dos Estatutos, das nossas autoridades, da voz da Igreja. Testemunhando na nossa família, nos lugares aonde vamos, sendo um cristão autêntico. Em tudo isso, nós estamos a matar a sede de Jesus.
Podemos enxergar na vida da nossa fundadora o seu desejo de matar a sede de Deus. Ela fala e vive suspirando, apaixonada por Cristo. Também as nossas almas precisam ter esse desejo.
Apaixonar-se por Deus
Finalizemos refletindo o Salmo 41. Apesar dos seus muitos defeitos e misérias, Davi foi um homem apaixonado por Deus. Embora tivesse muitas mulheres – muitas distrações, por assim dizer –, dormia desejando profundamente a Deus. Ele era apaixonado, e Deus se encantou com Davi.
Ele se encantou conosco e nos chama a matar Sua sede: é amá-lo; adorá-lo; acordar com esse foco; e, ao fim do diz, dormir refletindo se essa meta foi alcançada.
O mundo é árido e nos cansa… Na oração, o Senhor é a brisa, a sombra, a água capaz de matar nossa sede, pois é um Deus que nos ama!
Francisca Roberta Fonteles
Consagrada na Comunidade de Aliança com Promessas definitivas