A Força do Chamado e o Carisma Encarnado. A força do chamado se sobrepõe às nossas forças. Deus vence de uma forma muito bonita. Deus tem sempre razão. O que Ele reserva para nós é muito melhor do que aquilo que esperamos para nós mesmos.
O Senhor é o meu rumo de vida
É preciso ter claro dentro de mim o que é um Carisma! Ele é como o DNA de uma vocação. A minha vocação tem um DNA, onde está contido tudo da nossa identidade, nossa particularidade.
O Carisma Filhos de Sião é o DNA desta vocação: a graça que Deus nos deu e que contém o jeito de ser, fazer, rezar, realizar a missão. Ele não é uma identidade aleatória. Assim como o meu DNA biológico carrega muito dos meus pais, o Carisma também não é um molde que Deus cria, mas uma particularidade que eu recebo e que diz respeito a Cristo.
O Carisma é o DNA, a herança de Cristo em mim. É parte de Cristo inserida dentro de mim. A minha vida, quem eu sou, vai ressoar e se moldar a partir disso. É tornar a graça de Deus carne.
Conduzidos por João 1, 1-4.14: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.”
O Verbo, por meio do qual tudo foi criado, é o Filho. Desde toda a eternidade, o lugar do Verbo era com Deus. Ele se fez carne e desceu. Ele se tornou como nós, um de nós. Fomos feitos à sua imagem, e depois Ele se fez como nós! E nós vimos a sua glória.
Para nos salvar e nos fazer entender Seu grande amor, Deus não mandou um novo mandamento, nem uma carta, nem mais um profeta para revelar o Seu amor e realizar a obra da reconciliação. O próprio Deus se encarnou. Veio ser gente, fazer morada, viver entre nós. Viveu a nossa realidade ao Seu modo de viver — nos mostrando, ensinando, aproximando-se de nós, acabando com a distância entre Deus e o homem. Em Jesus, Deus nos revelou quem Ele é.
Jesus nos mostra como o Pai quer que amemos: “Veja a minha vida e imite-a.”
Agora começamos a entender a necessidade de receber de Deus uma graça encarnada. Essa graça não foi dada para permanecer apenas nas emoções, sentimentos ou na imaginação. Esse DNA de Cristo foi colocado em nós de forma particular, para que, assim como aconteceu com o Verbo, aconteça conosco: tornar-se carne.
Ao receber um Carisma, o Senhor não está nos dando apenas talentos para nos tornarmos executivos ou habilidades para realizar atividades evangelizadoras. Isso não é um Carisma. O Carisma é para que a minha humanidade se torne uma figura de Cristo, para que o meu ser humano se aproxime d’Ele naquele mistério que me foi dado.
O Carisma não se encarna de forma automática, não é em um evento ou ocasião isolada, mas é um caminho processual. Eu recebo a graça de Deus e entro no processo, no caminho de ser formado de novo, um processo que dura a vida inteira.
Não se trata de adequação de métodos, mas de transformação interior. Quando o Senhor me amou, elegeu e separou, foi para encarnar o Cristo no outro e na minha vida.
Perene Processo de Encarnação do Carisma
1) Conversão
A minha experiência com Deus foi marcada pelo amor. Se você realmente teve um encontro com Deus, foi uma experiência de amor. Isso é conversão.
A nossa humanidade é capacitada para o novo — uma vida nova, um tempo novo! É um processo contínuo de conversão a um Deus misericordioso. Para encarnar o Carisma, a comunidade precisa continuar crescendo individualmente nesse processo, que é uma constante atualização do encontro pessoal com o Senhor.
O amor nos faz repetir o mesmo movimento do Verbo: descer e ir ao encontro do outro — não para nos tornarmos melhores que os outros, mas para sermos misericordiosos como Deus é.
2) Cura
A cura das feridas da vida não acontece apenas em encontros de cura e libertação. A própria conversão nos conduz a esse processo.
A comunidade, de forma pessoal e comunitária, precisa ser conduzida a um processo perene de cura. Mas a cura não é o centro da vida. Deus nos diz: “Basta-te a minha graça!”
A graça de Deus é maior do que as nossas dores. Ela não pode nos paralisar na vivência da vocação. Existem doenças que podem nos impedir de realizar certos trabalhos, mas não podem nos impedir de viver o Carisma. A graça de Deus é o bastante!
3) Maturidade Humana
É preciso se tornar uma pessoa e um consagrado maduro — maturidade na mentalidade, afetos, sentimentos, emoções…
Sem maturidade humana, dificilmente conseguiremos encarnar o Carisma. Conversão, cura e maturidade andam juntas!
A comunidade precisa ser um lugar saudável, conduzida por pessoas maduras e equilibradas. Um dos métodos para ajudar os membros nesse crescimento é a formação pessoal — através de conteúdos e conhecimentos que sirvam de espelho e caminho.
Mas o próprio Deus também nos ajuda, permitindo o sofrimento. O sofrimento transforma. Precisamos nos permitir sofrer e louvar: “Bendito seja o nome do Senhor!”
O sofrimento não nos determina
Conduzidos por I João 1, 1-3
A graça do Carisma não é algo subjetivo ou abstrato. Ela precisa ser concretizada, materializada. Somos chamados a agir como Jesus, que se fez carne, e como os discípulos, que se fizeram testemunhas.
O Carisma se Vive no Ordinário
Precisamos pregar sobre o Carisma na comunidade, a partir da graça que nos foi dada, produzindo atitudes concretas que tornem visível o Carisma.
O Carisma encarnado precisa ser visto — e não em vídeos, filmes, encenações ou shows. Ele se apresenta nas ações ordinárias da vida: vivendo como Filhos de Sião no trabalho, na cozinha, no supermercado, no luto, no hospital…
A grande missão do Carisma não se concretiza no fazer, mas no ser, no ordinário da vida.
Quem forma a comunidade não é apenas o formador, mas também a formação que cada membro dá com seu exemplo. Nutrir a vida comunitária com o próprio testemunho.
A santidade floresce na humanidade.
Alessandra Freitas
Fundadora da Comunidade Remidos no Senhor