Formação

Esvaziar-se para que Deus cresça em nós

“Dedicai-vos a estima que se deve em Cristo Jesus. Ele, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. E, apresentando-se como simples homem, humilhou-se, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz!” Filipenses 2, 5-8.

O texto apresenta o movimento vivido por Jesus, aponta uma trajetória a ser percorrida por quem quer segui-Lo. O que se vê é um movimento de cima para baixo, assemelha-se a descer uma escada com vários degraus, até o chão: “Ele (Jesus) sendo de condição divina esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição humana; sendo homem, fez-se servo; humilhou-se; e foi obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2, 6-8).

Este relato mostra o despojamento de Jesus, seu esvaziamento, sua kenosis total, motivado por sua obediência a Deus Pai. Somente quem se esvazia de si mesmo pode seguir plenamente a Jesus. É necessário nessa caminhada como na de Jesus esvaziar-se de si para abraçar a proposta do Reino de Deus.  Viver o esvaziamento da vontade própria à aceitação do desejo divino de Deus.

Em um ato livre Jesus esvaziou-se de tudo: de posição social, de honras, de fama e da própria vida. Perdeu e entregou tudo pela causa do Reino de Deus. Jesus desceu ao nível mais baixo da existência humana, assumindo a condição de servo, colocando-se a serviço do Projeto do Pai. Ele mesmo disse: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Mas, não seja feita a minha vontade, e sim a tua” (Lc 22,42); e ainda: “Assim, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos” (Mt 20,28).

O esvaziamento era a consequência conatural da encarnação, era uma autolimitação da onisciência, onipresença, era uma real despotenciação do verbo.

O que significa esvaziar-se?

Esvaziar-se não é perder a identidade, mas se abrir para a ação de Deus.

O modo de ser de Jesus, deve ser também o nosso. Jesus Cristo “esvaziou-se a si mesmo”, isto é, assumiu uma atitude baseada unicamente no amor, sem nenhum interesse pessoal. Essa é a verdadeira atitude diante de Deus Pai. Por isso, Deus Pai o exaltou, ressuscitando-o dos mortos e colocando-o no posto mais elevado, conforme Fl 2, 9. A exaltação de Jesus foi a resposta de Deus à sua entrega total. Aquele que se esvaziou encheu-se de glória. No mundo de hoje, somos tentados a encher nosso coração de orgulho, vaidades, apegos e autossuficiência. Jesus nos ensina a humildade e o abandono total à vontade do Pai.

Exemplos de esvaziamento na Bíblia

1) Jesus Cristo, o maior exemplo: Ele se fez pequeno para nos salvar, lavou os pés dos discípulos e entregou-se na cruz.

2) Nossa Senhora, modelo de humildade: No Magnificat, Maria exalta que Deus derruba os poderosos e exalta os humildes (Lc 1,46-55). Seu “Sim” foi um ato de total esvaziamento: “Eis aqui a serva do Senhor…” (Lc 1,38).

3) São João Batista: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). João reconhece sua missão e se retira para que Jesus seja exaltado.

 Como nos esvaziar na prática?

  1. Orar com humildade – Reconhecer nossa dependência de Deus.
  2. Renunciar ao orgulho e à vaidade – Submeter nossa vontade à vontade do Senhor.
  3. Servir ao próximo – O serviço desinteressado nos ensina a nos desapegar de nós mesmos.
  4. Aceitar a cruz com fé – As dificuldades são oportunidades de crescimento espiritual.

 O que acontece quando nos esvaziamos?

  • Quando nos esvaziamos, Deus nos preenche com Sua graça e amor.
  • A alegria verdadeira está na entrega total ao Senhor.
  • O convite para que cada um examine o próprio coração e peça a graça do esvaziamento interior.

Mt 21,28-32 Jesus começa a parábola com uma pergunta: “Que vos parece? De acordo com as convenções sociais da época, o mais provável é que o povo respondesse que aquele que agiu bem foi o primeiro filho, porque respondeu bem a seu pai. O outro filho havia apresentado uma objeção a seu pai ao desobedecer-lhe; sua negativa era uma falta de respeito. Todavia Jesus muda a pergunta: qual dos dois fez a vontade do Pai? O que importa não são ritos externos, mas aquele que faz a vontade do Pai.

O amor não é consumado pelas Leis e ritos mas sim pelo compromisso. Por isso, ao ouvir deles esta resposta, Jesus lhes afirma que “os cobradores de impostos e as prostitutas os precederão no Reino de Deus”. Não significa que eles entrarão “depois”, mas que ficarão de fora do Reino. Com isto Jesus faz ver e entender  que crer e trabalhar na vinha do Senhor é o critério, a condição para entrar no Reino. As relações autenticas com Deus estabelecem-se pelo compromisso.

Viver vida consagrada, querer seguir Jesus mais de perto, exige esvaziamento de si mesmo e abertura solícita para trabalhar na vinha do Senhor.

Rezamos no salmo 39: Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade Senhor e em Hebreus10, 5-7 Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade.

 

Vander Lúcia Menezes Farias
Fundadora e Moderadora Geral da Comunidade Filhos de Sião

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