Conduzidos a partir de João 6, 60ss.
Saibamos que foi o Espírito Santo que, ao longo dos anos na história da Comunidade, inspirou cada regra, cada lei que hoje nos conduz. Não estamos na Comunidade vivendo as leis, as vontades da fundadora, mas para viver o Evangelho. Foi para isso que o Senhor inspirou este Carisma. Se não fosse assim, para tornar o Evangelho vida em nós para o outro, o Senhor não o teria suscitado.
Antes de estar aqui cansados, trazendo coisas que talvez nem sejam nossas, acolhamos o chamado de Deus, que nos recebe humildemente e deseja que também o recebamos.
A quem iremos nós?
Todos nós consagrados chegamos à Consagração nos deixando ser vencidos por Jesus, a ponto de dizer como São Pedro: “A quem iremos nós…”?
Naquele momento, Jesus estava apresentando o discurso do Pão da Vida. Ele expunha aos discípulos um programa formativo; o que era necessário para segui-Lo. Aqueles que O seguiam não conseguiram entender de início, e muitos acabaram desistindo de permanecer nesse caminho com Cristo. O texto sagrado diz que foram os discípulos que O deixaram…
No caso da Comunidade, de nossa parte, também nós temos dificuldade de compreender. Isto é, também nós podemos deixar Jesus, também nós podemos não mais estar com as nossas vidas unidas à vida de Jesus. Isso porque já preenchemos nossas agendas, nosso tempo, nossas prioridades, sem questioná-Lo: Senhor, o que tu queres?
Viver com Cristo e o escândalo
No Evangelho, conforme Jesus prosseguia o discurso, ao final revelou acerca de Judas, que O traiu. Ora, Judas andou com Jesus, mas não quis viver com Jesus.
Diferentemente dele, muitas das nossas vontades e escolhas são lícitas. No entanto, estão conformes à vontade de Deus? É isso que Ele deseja para nós, que temos vida comunitária? Compreendamos que o Senhor nos chamou não para uma vida isolada, mas uma vida comum. Isso significa que a minha vida diz respeito da vida do outro, e vice verso.
No discurso, o escândalo dos discípulos foi pelas palavras de Jesus, ao dizer que a Sua carne seria dada como alimento – em outras palavras, Cristo deu a Sua própria vida como garantia.
Reflitamos o seguinte: se diminuirmos os mandamentos que o Senhor nos deu, estaremos tardando a nossa salvação, caminhando mais lentamente nesse caminho para a Salvação.
Ao apresentar o discurso, e mesmo perante o escândalo, Cristo não amenizou, não diminuiu o discurso. Pelo contrário, vendo que muitos desistiram, regrediram, Ele se voltou para os Doze e questionou: “vocês também querem desistir?”. O programa cristológico é para que a vida dos discípulos se tornasse a vida de Cristo.
Se considerarmos que a Comunidade atrapalha as nossas vidas profissionais, pessoais, familiares… Logo, logo ela se tornará um escândalo para nós.
Dai-lhes vós mesmos de comer
O povo buscava o pão, junto de Cristo. Todavia, Jesus ensinava como fazer o pão para dar de comer ao próximo. Assim, Ele ensinou: “este é o meu corpo, este é o meu sangue, dado por vós”.
“É necessário se dar como pão para os outros”.
Será que somos um testemunho de se doar? Pois só é santo quem serve, e só serve quem ama. Se não nos fizermos pão para o outro, vamos querer apenas ser alimentados. Afinal, acabaremos saindo, tais como aqueles discípulos que foram partindo, de um por um.
A pessoa que come do pão, e não se torna pão, não permanece, ela perece. Acontece desse modo, porque o que nos realiza não são as nossas conquistas, mas é torná-las escravas da vontade de Deus. O que realiza, de verdade, é se dar como alimento para o próximo.
Percebamos que Judas chamava Jesus apenas de “Rabi” (que quer dizer ‘mestre’), mas nunca O chamou de Senhor. Ele O seguia apenas pela inteligência, como Aquele que muito sabia. Portanto, Judas não fez a experiência da fé, e por isso pereceu.
Deixemo-nos conduzir por nossas autoridades, tanto nas nossas escolhas, como nos nossos talentos. Chamemos Cristo como aquilo que Ele é: “Senhor”.
“A consagração definitiva é o lugar para se doar mais”.
Concluímos aqui com nosso baluarte São Camilo, que difícil não é converter-se da própria vontade, mas converter-se à vontade de Deus.
Francisco Adriano Silva
Cofundador da Comunidade Filhos de Sião