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Retiro de Semana Santa: Paixão de Nosso Senhor – Sexta-feira Santa

Ontem, na Última Ceia, vimos Jesus se entregar na Eucaristia – de modo incruento. Hoje, na Paixão, veremos Jesus se entregar na Cruz – de maneira cruenta, isto é, com derramamento de sangue.

O Senhor, que é totalmente Deus e homem, nesse mistério hipostático, amou os seus não apenas com Coração Divino, mas também com o seu coração humano. Ele é, portanto, o amor encarnado.
Jesus recebeu o dom da visão beatífica, que permite seu dilatado coração ouvir e acolher todas as nossas orações e súplicas. Graças a esse dom, Ele já sabia da dor que lhe estava reservada, bem como qual dos discípulos lhe trairia… Além disso, maior foi a ferida da negação de Pedro; assim como a traição de Judas, pois eles eram do grupo dos escolhidos, dos Apóstolos.
No momento da Instituição da Eucaristia, o Senhor deu a comunhão a Judas – naquele instante, o texto sagrado nos diz, o demônio entrou nele.

Como estão as nossas comunhões?

Mesmo sabendo dessa possibilidade de traição, Jesus não desistiu de Judas. Isto é, instituiu o seu sacerdócio e lhe deu a Eucaristia… Mas com um beijo foi traído.Na agonia o Cristo sofreu pelo peso dos pecados da humanidade – sendo Deus atemporal, no qual não há passado nem futuro, apenas o presente, Jesus sofreu todos os pecados do seu tempo e do nosso tempo. Logo, o seu e o meu pecado estavam ali, fazendo sofrer o coração de Jesus.Não bastasse essa realidade, estava presente também o Inimigo, que a todo instante tentou a Cristo, tentando convencê-lo que o Seu sofrimento seria em vão… Pois muitos sequer acreditaram, outros rejeitariam…

Isso justifica a maldade intensa com que violentaram Jesus – tanto os guardas, como o povo que gritava “crucifica-o!”.
Naquele monte calvário, onde Jesus haveria de ser crucificado, diz a tradição, que é o mesmo monte Moriá, onde Isaac foi poupado de ser morto pelo seu pai Abraão. A história se repete, Isaac foi prefiguração de Cristo: Abraão subia com a forja e a fé, e Isaac com a madeira nas costas – tal como Jesus carregou o madeiro da Cruz, acompanhado pela Sua Mãe Santíssima, a única que manteve a fé, e que representou a Igreja.

No julgamento, por medo, Pilatos não O livrou. Na flagelação, os soldados não pouparam esforços para feri-lo e chagá-lo… Ainda que o chefe tivesse mandado parar, isso o fez para que Jesus não morresse antes do suplício final. Na subida ao Calvário, o Cirineu ajudou a carregar o madeiro pela mesma razão – mesmo à força, carregou a cruz daquele homem desfigurado; talvez se questionando o que Ele teria feito de tão ruim para ser tratado daquela forma.
Vale ressaltar que, mesmo negando o auxílio, o cirineu quando trocou o olhar com Cristo, e com Ele caminhou, entendeu que se tratava de um inocente: era Deus mesmo.

Do alto da cruz, Jesus sofrendo na carne e no espírito, ainda teve compaixão daqueles que ali estavam, dizendo ao Pai que os perdoasse, “pois eles não sabem o que fazem”. De fato, Cristo sabia que sua luta não era contra homens, mas contra o Maligno. Ele compreendia que os que lhe feriam estavam todos possessos!

No entanto, Deus abriu a visão de alguns. Até o ladrão perdoado, mesmo “quase morto”, conseguiu perceber quem estava crucificado ao seu lado: “lembra-te de mim quando estiver no Paraíso”.
Podemos questionar por que Deus Pai permitiu todo aquele horror… Além da salvação, foi para que compreendêssemos a feiura do pecado. Permitiu que o Filho derramasse todo o Seu sangue, fazendo como que uma “transfusão”, para que fôssemos lavados, purificados. A exemplo de Cristo – esvaziado da sua condição divina – motiva a nós para que nos esvaziemos do pecado.
Sabemos que é pouco, insuficiente o amor que temos para oferecer ao Crucificado, mas junto a Ele podemos receber dEle mesmo esse amor, e nos decidirmos por Ele.

Como Cristo transbordou de amor, que Ele transborde em nosso interior, até que saia de nós toda impureza do pecado, e reste apenas a Sua pureza, a Sua misericórdia, o seu amor.

 

Patrícia Jovino
Obra – Comunidade Católica Filhos de Sião

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