“A primeira vocacionada nesta partilha sou eu. A primeira que está renovando o chamado, o sim, sou eu”.
Estamos a caminho neste Vocacional, no qual o Senhor vai se descortinando para nós. Tal como o faz na Sexta-feira Santa, no percurso antes ao beijo da Cruz: o Crucificado vem pelo centro se descobrindo, se descortinando para nós.
Aos poucos Ele vai chegando, entrando e nos conquistando. Se neste caminho, até o momento, você esteve distraído, ou não se sentiu parte disso… Não importa quantas vezes você precise percorrer o percurso vocacional, pois, afinal, todos são chamados. E o Senhor não cessa de nos chamar.
Para que o Senhor constituiu e chamou os Filhos de Sião? Para amar o Amor que não é amado, por meio do louvor e da adoração. De um modo que Ele mesmo nos presenteou. Isso porque todo Carisma é parte de Cristo, é um “pedaço” de Jesus que nos é dado, nos é confiado, a fim de que cuidemos, zelemos e apresentemos ao mundo.
O Carisma é, portanto, um mistério de Cristo. Só o compreenderemos plenamente no Céu. Na história da Comunidade aos poucos Ele foi se revelando, e aos poucos fomos entendendo e construindo. Como num quebra cabeça, peça por peça, foi sendo montado o Carisma Filhos de Sião.
Se compreendermos, de início, que é um mistério que o Senhor nos deu, caminharemos até a meta.
Cristo Rei e Senhor abandonado na Cruz
Tudo em nosso meio parte desse fato: o nosso Cristo, o nosso Deus, estava abandonado na Cruz. Nós vivemos e sentimos esse mistério em nossas vidas. Percebemos, então, que Ele não estava abandonado e esquecido apenas na Cruz, mas está também nos Sacrários por todo o mundo.
Irmãos, a Eucaristia é o tesouro da Igreja! É Ele a nossa maior riqueza.
E a humanidade segue sem conhecer Jesus. Tal como antigamente, no Seu tempo, Jesus ainda não é conhecido, não é amado. E quanto tempo perdemos de ser feliz… Porque é o que Ele quer: que sejamos felizes!
Ao vermos, sentirmos, experimentarmos o Cristo Rei e Senhor abandonado, nós entendemos que era uma das peças do quebra cabeça. Nosso Deus clamava de sede, mas não de água… Ele tem sede de nós. Desde toda a eternidade, o Senhor nos pensou, projetou para sermos Sua imagem e semelhança, plenamente felizes. Por isso, até hoje Ele nos diz: “Tenho sede!”.
O Servo sofredor
Conduzidos a partir de Isaías 53.
Apesar de ter vivido, em média, 700 anos antes de Cristo, o profeta Isaías já profetizara acerca do Filho de Deus – o Servo sofredor.
O texto inicia nos questionando quem nos salvaria, como acreditaríamos que Deus enviaria salvação para nós… No entanto, Aquele que nos salvou, que tanto suportou por amor a nós, foi desprezado, deixado de lado pelos homens: vejamos, aqui está o nosso Carisma nas profecias.
Ora, quem não vive uma experiência com esse amor, acaba por ser um revoltado. Quem não vive uma experiência com Deus, de fato, vive uma revolta.
A humanidade pode correr atrás de todos os bens deste mundo, mas nada disso trará paz – ela está em Cristo, vivendo nEle, com Ele e para Ele. A partir da experiência com Jesus, encontramos, enfim, a paz interior.
Em Suas chagas encontramos cura para nossos males, pecados, revoltas.
Afinal, por que o Senhor nos atraiu para cá? Ele nos trouxe para deixarmos o nosso próprio caminho, para seguir o caminho dEle – o caminho certo. Tomou as “ovelhas desgarradas, errantes” a fim de levá-las à felicidade.
Todas as nossa iniquidades foram pagas pelo Cordeiro, que em silêncio partiu para o matadouro – sem murmuração, sem revolta. Embora brutalizado, ferido e machucado, deu a vida – não abriu a boca, com humildade, sofreu com amor.
Vamos rezar, repita: Eu não vou abrir minha boca diante das tempestades, dos desgostos. Permanecerei sorrindo e feliz.
Justo Filho de Deus
Foi a revolta do povo que tirou a vida de Jesus, a revolta do Seu povo. Todo o sofrimento, da Paixão à Morte de Cristo, toda Sua vida foi uma oferta, um sacrifício de reparação. E apesar de tanto amor, Ele foi incompreendido, Ele não foi amado.
Somente após a Sua morte foi reconhecida a Sua justiça, Sua inocência: “Verdadeiramente Ele era o Filho de Deus”. Quanto mais nos aproximamos do Justo, mais nos tornaremos justos. Por Ele somos salvos e libertos!
Nosso chamado é uma decisão, que tem um preço alto, mas o sabor é gostoso! Enquanto houver vida, vamos amar o Amor que não foi amado.
Diante do brado de Cristo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. Esse grito não foi de desespero, foi a entrega ao Pai, o momento deste acolher o sacrifício do Filho, do qual não faltou nada: “Tudo está consumado”.
Não é possível passar pelo mistério da Cruz e não se sentir amado.
Oferta apaixonada
Todo o sacrifício de Cristo foi pela nossa salvação, mas não foi só isso: foi por amor. Ele fez de tudo para revelar a nós que o Pai estava apaixonado, ardente de amor por nós. Ora, na Sexta-feira Santa, no momento do Evangelho, o que é proclamado? A PAIXÃO de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E o belo em tudo isso é que, quanto mais reconhecemos esse Amor, mais percebemos que não O retribuímos, não O amamos nada ainda.
Apesar disso, Ele tem sede do meu e do seu amor. Ele há de nos dar a graça de O correspondermos.
A necessidade do Senhor é que O amemos. Não porque Ele carece do nosso amor, mas porque Ele sabe que nós precisamos amá-Lo. E amá-Lo com todo o coração, com toda a alma, com toda a vida.
É neste aspecto que São Francisco nos inspira, e por isso é nosso baluarte: ele amou a Cristo com amor inigualável ao descobrir que Ele estava abandonado na Cruz, e por essa razão gritou: “O amor não é amado! O amor não é amado!”.
Portanto, a resposta do filho de Sião é sua própria vida: entregá-la como oferta viva por amor a Deus. Estamos aqui porque o Senhor nos olhou com profundo amor, Seu olhar está sobre nós com uma porção maior de amor. Isso porque Ele nos devolverá ao mundo para revelar tamanha descoberta.
Quem é o homem no Carisma Filhos de Sião?
Esta é a identidade do homem no Carisma: é alguém que teve um encontro com esse mistério revelado – Cristo abandonado na Cruz, que gritou que tem sede, e que chama para que correspondamos como almas esposas.
Tal como o ardente amor de Jesus, também nós O corresponderemos com um amor sem igual!
Vander Lúcia Menezes Farias
Fundadora e Moderadora Geral da Comunidade Filhos de Sião