VOCACIONAL FILHOS DE SIÃO

Vocasiyyõn 2025 – Senhor, não a minha, mas a Tua vontade

Hoje começa o caminho na vida de vocês, e esse caminho precisa ter um bom início, porque é nele que você vai saber por onde e como Deus vai conduzir a sua vida. Eu não iniciei o encontro vocacional brigando com vocês, eu comecei amando vocês, porque quem ama quer estar perto. Quero dizer para vocês que este é um caminho de proximidade. Quanto mais perto de Jesus, mais eu vou saber o que Ele quer para mim.

Se nos distanciarmos d’Ele, também nos distanciaremos do outro. Quando saio de perto de Jesus, também me afasto dos irmãos. E quando isso acontece, como fico? Sozinho! E sozinho, ninguém consegue discernir nada. Precisamos de alguém para nos conduzir.

A Quaresma começou na Quarta-feira de Cinzas e, no primeiro domingo, o Evangelho nos diz que o Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto. O Espírito Santo esteve com Jesus durante esse tempo, e, depois das várias tentações do demônio, quando Ele venceu aquele momento difícil, a Palavra de Deus nos diz que os anjos estavam lá para consolá-Lo.

A caminhada é pessoal

Ninguém fica só. Existe apenas um momento de solidão necessária: a hora de dizer sim a Deus. Você não dirá sim porque seu amigo disse, pois esse sim é pessoal. O amigo pode até animar você, mas o sim é seu.

Muitas vezes ouvimos: “Vou fazer meu caminho vocacional se meu marido for, se minha esposa for, se meu namorado for”, porque é bom caminhar juntos. E de fato é maravilhoso. Mas o chamado e a resposta são individuais. Um dia, na caminhada, estará apenas você e Deus para responder. Se eu disser sim por causa de outra pessoa, posso me animar no momento, mas, quando estiver sozinho, esse sim perderá o sentido.

Conduzidos por São Lucas 22, 14-42, vamos entender que nesta bela manhã de 16 de março de 2025, o Senhor abre uma porta para nós. Se não compreendermos isso, poderemos pensar que entramos nesse caminho por mérito próprio. Mas, na verdade, foi o Senhor quem nos chamou. Ele nos chamou porque nos ama. Tudo o que está acontecendo é uma dose extra do Seu amor por nós. O Senhor nos diz: “Se você não trilhar esse caminho, não experimentará essa dose a mais do Meu amor”.

O caminho de entrega a Jesus

Deus nos deu essa oportunidade para que pudéssemos experimentar Seu amor. Quero abrir os olhos e os ouvidos de vocês: hoje vocês estão entrando no caminho de dar a vida a Jesus. Não é apenas mais um grupo de oração ou uma reunião. É o caminho de entrega a Jesus, como nos ensina São Lucas.

Estamos aqui por causa de um chamado, e todo chamado precisa de uma resposta. Se Deus colocou essa inquietação no seu coração para trilhar esse caminho, é porque Ele está chamando você para algo maior. Aqui, você descobrirá que Jesus o chama para amar mais, ou, se ainda não O ama, aprenderá a amá-Lo novamente.

No Evangelho de São Lucas, entendemos que a transfiguração de Jesus aconteceu quando Ele estava a sós com o Pai. Primeiro, Ele convidou três discípulos para estarem com Ele, mas depois afastou-se para rezar. O chamado de Deus exige que nossa vida esteja inserida nesse caminho de oração. Se não rezarmos, se não tivermos tempo para um encontro diário com Jesus, podemos pensar que estamos nesse caminho por vontade própria. E quando seguimos apenas nossos desejos, desistimos facilmente.

O caminho de dar a vida a Jesus significa entender que nossa vida só dá certo com Ele e no lugar que Ele preparou para nós. Não fazemos esse caminho sozinhos; Deus nos dá um caminho para trilharmos e conhecermos Sua vontade. E esse caminho é a Comunidade Católica Filhos de Sião.

Quando rezamos, devemos rezar com nossa vida, para que, nos momentos de angústia e medo, possamos dizer como Jesus: “Senhor, se possível, afasta de mim este cálice, mas que se faça a Tua vontade, e não a minha”. Quando surgirem dúvidas e dificuldades, lembremo-nos do que ouvimos hoje: “Senhor, não a minha, mas a Tua vontade”.

Jesus não parou no cálice. Ele afirmou, em oração, Sua total submissão ao Pai. Só encontramos a vontade de Deus quando estamos dispostos a nos submeter a Ele e deixá-Lo ser o Senhor da nossa vida. Quero que vocês tenham consciência de que estar aqui é plano de Deus. Ele usou várias situações para trazer vocês até aqui, até mesmo desafios, para chamar sua atenção e tocar seu coração.

Quando senti meu chamado, precisei buscá-lo longe, em Sobral. Em 1996, tive meu encontro pessoal com Jesus e entendi que Ele me amava e me chamava para algo maior. Em 1997, decidi seguir o que Deus queria para minha vida, e, em 2003, percebi que minha vocação era construir a Comunidade Filhos de Sião.

Muitas vezes, tentamos desenhar nossa própria vida e acabamos frustrados. Deus é o oleiro; Ele molda nossa vida conforme Sua vontade. Cuidado ao querer planejar tudo sozinho. O chamado de Deus exige entrega e confiança. Não tenha medo de dar tudo a Deus. Ele sabe o que é melhor para você. Diga como Jesus: “Senhor, não a minha, mas a Tua vontade“. A vontade de Deus é nos salvar. Não dê prioridade a nada que não seja Jesus, pois tudo o mais virá como consequência.

Quero que vocês saiam daqui sabendo que estão pisando num caminho seguro, abraçando a vontade de Deus. Quando Jesus abraçou a cruz, Ele disse: “Estou pronto”. Que possamos dizer o mesmo a Deus hoje. Aqui você vai descobrir que Jesus está lhe chamando para amar mais, ou então vai perceber que não ama Jesus como deveria e que precisa voltar a amá-lo.

Meus irmãos, no Evangelho de São Lucas, entendemos algo muito importante: a transfiguração de Jesus aconteceu quando Ele estava a sós com o Pai. Primeiro, Ele convidou três discípulos para estarem com Ele; depois, pediu que ficassem e afastou-se um pouco para rezar ao Pai. O chamado de Deus exige que minha vida entre nesse caminho de oração. Preciso orar para ouvir a voz do Pai, pois, se não rezo, se não separo tempo para estar com Jesus diariamente, acabo seguindo um caminho baseado na minha vontade. E quando fazemos apenas o que queremos, desistimos facilmente, porque basta a vontade passar para que abandonemos o caminho.

Entregar a vida

Entregar a vida a Jesus significa compreender que minha vida só faz sentido com Ele e no lugar que Ele escolheu para mim. Não caminhamos sozinhos; o Senhor nos dá um caminho para trilharmos e conhecermos sua vontade. Para mim, esse caminho é a Comunidade Católica Filhos de Sião. A Comunidade me permite enxergar Deus e entregar minha vida a Ele. Existem outros caminhos, pois Deus tem uma pedagogia própria para conduzir seus filhos. Por isso, há diversidade dentro da Igreja: Deus nos chama conforme nossa condição e capacidade de responder ao Seu chamado.

Quando rezamos, não o fazemos separados da nossa vida, mas em unidade com ela. E, no caminho de vocês, quando surgirem angústias, medos, dificuldades e tentações que tentam desviar vocês do plano de Deus, parem e digam: “Senhor, se possível, afasta de mim este cálice, mas que não seja feita a minha vontade, e sim a Tua.”

Quando surgirem dúvidas, perturbações e desafios, quando parecer que falta algo no seu caminho, lembrem-se do que foi dito neste primeiro encontro: “Senhor, não a minha vontade, mas a Tua.”

Jesus não parou no cálice; Ele continuou sua oração porque reafirmava, nela, sua total submissão ao Pai. Somente aqueles dispostos a se submeter encontram a vontade de Deus, pois isso significa deixar Deus ser verdadeiramente o Senhor de suas vidas. Quero que vocês tenham consciência de uma coisa: estar aqui é plano de Deus. Foi Ele quem quis isso e usou diversas situações para trazer cada um de vocês até aqui, inclusive momentos difíceis, para que pudessem ouvi-Lo e sentir Seu chamado no coração.

Busca para fazer a vontade de Deus

Quero partilhar com vocês como senti meu chamado. Quando decidi entregar minha vida a Deus, precisei buscar algo que vocês já têm aqui. Para isso, fui até Sobral fazer um caminho vocacional. Chegar lá não foi fácil. Eu tinha 24 anos, e naquela época essa idade não representava tanta independência como hoje. Foi difícil entender, mas havia uma inquietação no meu coração e eu buscava uma resposta.

A única coisa que eu queria era saber o que Deus queria para minha vida. Nada mais me importava. Tive meu encontro pessoal com Jesus em 1996, em uma manhã de domingo, durante a efusão do Espírito Santo. Naquele momento, senti que Jesus queria algo de mim. Não foi apenas um momento de choro, repouso, libertação ou cura. Foi uma manhã em que Jesus falou ao meu coração, dizendo que me amava. Ouvi Jesus chamar meu nome e declarar Seu amor por mim.

Após esse grande dia, vi pela primeira vez jovens consagrados a Deus que não usavam hábito ou véu, mas se vestiam normalmente, com calça jeans, saia, blusa, tênis ou salto alto. Naquele instante, ao vê-los servindo, disse dentro de mim: “É isso que eu quero para minha vida!” Não falei para ninguém, mas já sabia o que Deus queria de mim.

Desde então, de 1997 para cá, minha única busca tem sido fazer a vontade de Deus. No meio de tantos cálices, perturbações, dúvidas e propostas de vida, minha maior prioridade sempre foi querer a vontade de Deus para mim.

Em 2003, a Comunidade Filhos de Sião estava se organizando, buscando compreender esse caminho de chamado de Deus e consagração. Naquele ano, aconteceu um retiro para que pudéssemos discernir como Deus queria conduzir nossas vidas. Coincidentemente, o retiro caiu no mesmo dia em que eu estava inscrito para prestar vestibular em Sobral. Eu faria vestibular para ser professor de História, mas, de repente, percebi que o retiro estava marcado exatamente para o mesmo dia do exame. Sabe o que eu fiz? Perdi o vestibular.

Por quê? Porque o que eu mais queria não era a minha própria vontade, mas sim a vontade de Deus. Mas será que não é vontade de Deus que estudemos? Que façamos faculdade? Talvez sim, talvez não. O que Deus quer, acima de tudo, é a nossa salvação. E se para Deus te salvar for necessário que você não faça faculdade, então não faça. Se para Deus te salvar for preciso que você não se case, então não se case.

Desde 1997, eu disse: “Quero para minha vida o que Deus quer.” Lutei, sofri e chorei para que essa vontade se concretizasse em mim. Às vezes, vejo vocacionados fugindo de Deus, e Deus correndo atrás deles. Mas, irmãos, eu corri atrás de Deus! Andei por muitos caminhos para poder encontrá-Lo, caminhos que hoje estão disponíveis, mas que não existiam no meu tempo.

Em 2003, fiz um retiro vocacional de três dias com a intenção de ir embora para a Comunidade Shalom. Passei três anos no vocacional e, naquele ano, concluí essa caminhada. Fiz um retiro de três dias em Fortaleza e, ao retornar, precisava escrever uma carta pedindo para ingressar na Comunidade. Porém, ao mesmo tempo, nós, da Comunidade Filhos de Sião, ainda estávamos discernindo se éramos, de fato, uma vocação e se tínhamos um chamado específico de Deus. Eu vivia essa realidade dentro da Filhos de Sião, o que mostra a minha loucura em querer a vontade de Deus a qualquer custo.

Quando voltei do retiro, fui partilhar minha angústia com uma pessoa da Comunidade Shalom. Disse a ela que havia amado estar ali, pois tinha passado quinze dias vivendo essa experiência. Tudo era maravilhoso para mim: as orações da manhã, o apostolado, o serviço à tarde, a convivência com os irmãos à noite. Apesar de ser tímido, eu gostava de tudo aquilo. Mas, ao mesmo tempo, sentia que algo dentro de mim não se encaixava completamente. O único desejo do meu coração era fazer a vontade de Deus, mas eu não sabia me expressar nem compreender o que estava sentindo naquele momento.

Quero para minha vida o que Deus quer

Então, na sua infinita bondade e misericórdia, Deus usou aquela mulher para me dizer:
“Adriano, o que está acontecendo com você é que Deus não quer que você entre em uma comunidade já formada. Ele quer que você vá construir uma nova.”

As palavras daquela mulher foram como tirar uma tonelada de cima de mim. Naquele instante, tudo fez sentido. Automaticamente, liguei tudo o que eu estava vivendo à realidade da Comunidade Filhos de Sião. Entendi que o que Deus queria para mim era estar ali, na Filhos de Sião.

Renunciei a tudo o que poderia ter para ser o que Deus queria que eu fosse. Muitas vezes, buscamos apenas ter coisas, mas o que Deus deseja é que sejamos. Raramente perguntamos a Jesus: “Senhor, o que queres de mim?” Em vez disso, já traçamos nossa própria vida. O problema é que muitas pessoas acabam deformadas pelos próprios planos que criaram, e nada dá certo. Cuidado ao desenhar sua vida com suas próprias mãos! Deus é o oleiro. Ele molda o barro, dando-lhe a forma que deseja, transformando-o segundo a Sua vontade.

É triste ver homens e mulheres que passam o ano inteiro caminhando e, ao chegar no retiro vocacional, dizem: “Não vou porque apareceu algo na minha vida. Quero algo diferente para mim.” Ali, a pessoa para apenas no cálice e não confia no projeto do Pai. É nesse momento que entendemos por que precisamos deixar tudo. Não importa se você é solteiro, casado, jovem ou adulto. O Senhor está lhe chamando para entregar tudo a Ele. Não tenha medo disso.

Mas como entregar tudo? Ele sabe o que significa esse “tudo” para cada um de nós. Basta dizer: “Senhor, não a minha, mas a Tua vontade

A vontade de Deus é a nossa salvação. Deixe Deus salvar você. Não devemos dar prioridade a nada além de Jesus. O resto é consequência. Quero que, hoje, vocês saiam daqui sabendo que estão pisando neste chão para aderir e abraçar a Deus. Quando Jesus abraçou a cruz, Ele disse: “Estou pronto.”

Francisco Adriano Silva
Cofundador e Formador Geral da Comunidade Filhos de Sião

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